Até ao momento os holofotes têm incidido muito mais sobre a polícia e a guarda do que sobre os manifestantes que eles querem reprimir, ou até sobre a cimeira propriamente dita e aos políticos superstars que aí vêm. Quanto à violência que serve de pretexto a todo o aparato militar e mediático que tem sido montado, também está a ser monopolizada pelas forças repressivas.
Público: Blindados da PSP não deverão chegar a tempo da Cimeira
“Sabe-se, no entanto, que a PSP entende que as viaturas são consideradas essenciais pois pretende-se a sua utilização posterior em acções nos mais de 300 bairros problemáticos de todo o país.”
Público: Manifestantes preparam-se para confrontos
“A contestação à cimeira da NATO, que vai decorrer em Lisboa, nos dias 19 e 20 deste mês, deverá começar a fazer-se sentir quatro dias antes, altura em que grupos contestatários têm previsto o início da afixação de cartazes contra o evento.”
O CrimethInc. preparou há dois anos uma lista de conselhos para manifestantes, que agora recordo pois poderá ser útil para o momento que vivemos. Destina-se a todo o tipo de manifestantes, incluindo os que pretendem manter as suas acções dentro do rigoroso cumprimento da lei. O “quem não deve não teme” não se aplica nestas situações. E nem a outras já agora. O caso mais recente de que tive conhecimento foi, há uns dias, em Santiago de Compostela, a polícia forçar sem ordem judicial a entrada em casa das pessoas para as compelir a retirar cartazes das janelas com a mensagem para o papa: “eu não te espero”.
As críticas estéticas e de simbolismo às tendências da moda para protestos de massas neste Outono/Inverno são no mínimo inconsequentes e desprovidas de sentido prático, e no seu pior sectárias, demonstrando falta de solidariedade e incapacidade de compreensão das novas realidades de controle e vigilância social operadas pelos Estados. Por isso, são de rejeitar comparações com insurreições passadas como o Maio de 68
ou Stonewall nos Estados Unidos
por todos os motivos apresentados no vídeo seguinte, que deverá ser visto particularmente por quem se prepara para se manifestar contra a Nato ou até contra a crise (sejamos optimistas) e não tenha bem consciência de como funcionam as forças repressivas estatais.
5 milhões de euros gastos sem concurso público por ser “material crítico, de segurança”. Não foi dada a justificação da urgência porque afinal de contas a cimeira da NATO já está marcada há bastante tempo e esse argumento não seria aceite. Qual é então esse material crítico para garantir a segurança no Parque das Nações?
seis veículos antimotim, blindados, norte-americanos, iguais aos usados no Iraque, que servem para transportar e distribuir as equipas de intervenção para as chamadas “zonas quentes” de alteração de ordem pública.
material de segurança mais sensível (de informação e contra-informação, bloqueio de telemóveis, etc.)
escudos, viseiras, capacetes, gás-pimenta, gás lacrimogéneo, barreiras de protecção, estruturas móveis para montar check points de controlo de acessos.
E são estes equipamentos usados para garantir a segurança contra uma grande ameaça, a saber:
Al-Qaeda, que costuma andar em grandes grupos pela cidade de Lisboa ameaçando a ordem pública e que para isso usam telemóveis para marcar estes ajuntamentos de terroristas. Verificar a veracidade disto no DN, Ameaça da Al-Qaeda aproxima-se de Portugal.
Ah! Já me esquecia. Também dizem qualquer coisinha de uns grupos radicais cujos membros se vestem de negro, incluindo o rosto. Mas, sem confusões. Os 5 milhões são por causa da Al-Qaeda.
A Quebec Provincial Police, Canadá, a deter uns perigosíssimos manifestantes nos protestos durante a Cimeira dos Líderes Americanos em Montebello, 2007. Afinal os detidos eram agentes provocadores da polícia como se pode ver pelas botas iguais às da polícia. A evidência foi tão forte que a polícia se viu obrigada a admitir a acção.
"Nos Estados modernos, o cidadão é politicamente impotente. Um cidadão, é verdade, pode queixar-se, fazer sugestões ou causar distúrbios, mas no mundo antigo estes eram privilégios que pertenciam a qualquer escravo."
- Mark Mirabello