<actualizado>
Actualizei este post com o resumo e a tradução livre que fiz das informações fornecidas por Nikos Raptis, um colaborador grego da Z-Net.
O caso do jovem alvejado em Peristeri
(as primeiras informações indicavam que o jovem havia morrido mas não se veio a confirmar)
Um grupo de cerca de 10 estudantes pertencentes à Comissão Coordenadora da sua escola foi alvejado em Peristeri há uns dias atrás quando se encontravam num espaço escolar ao ar livre a combinar o programa das manifestações do próximo dia. Um dos jovens, com 17 anos, foi alvejado na palma da sua mão direita. De acordo com os outros jovens um segundo tiro foi disparado 10 minutos depois de um local mais perto que o primeiro tiro.
Quem quer que o tenha feito assustou seriamente os pais dos jovens manifestantes gregos que poderão exercer pressão para os manter em casa. A polícia deixou escapar a informação que teria sido um “doido” que tenha disparado, no entanto há uma testemunha ocular que afirma que o tiro foi disparado por pessoas vestidas à civil num Citroen branco com uma grande antena de rádio que a polícia costumava usar.
Principais alvos das manifestações até ao dia 22 de Dezembro
De 17 de Dezembro até hoje (22 Dez.) tem havido demonstrações mas não tem havido ataques a bancos, lojas, etc. na baixa de Atenas e de outras cidades como nos primeiros dias do levantamento. Todos estes dias as acções têm-se verificado em geral longe do centro.
A escolha dos alvos é muito relevante e de grande importância sócio-política:
– As esquadras da polícia;
– A Academia de Polícia, em Nova Filadélfia, no Norte de Atenas;
– O Instituto Francês, provavelmente por causa do “fenómeno” Sarkozy;
– Um edifício governamental onde é guardada a informação das pessoas que têm dificuldades em pagar impostos, empréstimos, etc.
– Ocupação do GSEE (Confederação Geral dos Trabalhadores);
– Ocupação dos escritórios de Kougias, o famoso (e polémico) advogado que defende o polícia que matou o jovem Alexis e destruição do estabelecimento. Dois ataques ao próprio Kougias na cidade de Patras, em que foi salvo pela polícia;
– Ataque à unidade de polícia que guarda o complexo de edifícios judiciais em Atenas;
– Invasão do Teatro nacional e paragem do espectáculo;
– Arremesso de guloseimas, doces e bombons ao presidente da câmara de direita de Salónica. A resposta verbal do autarca foi chamar-lhes “Seus excluídos sociais”. A reacção dos presentes foi apoiarem os jovens.
– Queima da enorme árvore de natal do cristianismo ortodoxo grego (também conhecida por Tannenbaum) no centro de Atenas, na Praça da Constituição. O artigo terceiro da constituição grega declara: “A religião estabelecida na Grécia (costumava ser ‘oficial’) é a religião da Igreja Ortodoxa Oriental de Jesus Cristo. A Igreja Ortodoxa grega, que reconhece como seu Senhor Jesus Cristo…” e por aí adiante. Por conseguinte não e de estranhar a enérgica defesa da árvore pela polícia que a cercou e reprimiu violentamente os manifestantes nas proximidades.
Um jovem soldado que caminhava à civil com a sua namorada foi atacado por um grupo de polícias sem qualquer razão aparente. O jovem foi espancado e ficou ferido num dos olhos. Uma testemunha ocular, um advogado, interveio e foi maltratado pelos polícias. O jovem foi preso e está agora acusado de vários crimes graves. O “caso do soldado” tornou-se um caso paradigmático de brutalidade policial para os gregos.
Relação das forças que participam na sublevação
(os números referem-se à influência de cada grupo e não à presença nas ruas)
– anarquistas na frente do combate em número muito reduzido
– umas centenas de anarquistas não-violentos espalhados por toda a Grécia
– Os habituais infiltrados da polícia nos grupos anarquistas
– um grupo muito perigoso de polícias (indivíduos do tipo dos mercenários da Blackwater), apoiados por neo-nazis (Madrugada Dourada), disfarçados de anarquistas
– O KKE, Partido Comunista da Grego, comunistas ortodoxos, na ordem de centenas de milhar
– O Synaspismos, ou “Coligação da Esquerda Radical”, ou “Coligação da Esquerda e Progresso” de origens eurocomunistas na ordem das centenas de milhar
– Os Verdes, na ordem dos milhares
– Os estudantes universitários, na ordem das dezenas de milhar
– Jovens estudantes, na ordem das centenas de milhar
Reacções na sociedade grega
Um terço da população serão pessoas que se poderiam considerar como conservadoras (ou cripto-fascistas). Esta faixa de população está maioritariamente do lado do polícia que assassinou o jovem Alexis, pensam que se estaria a defender perante um grupo de adolescentes violentos, e que ele fez bem em matá-lo porque o consideram um vadio. Pensam que Kougias, o advogado que defende o polícia está a fazê-lo correctamente ao proclamar que a sua morte foi a “vontade de Deus” e que “os tribunais deverão decidir se a morte foi necessária”.
O Ministro da Justiça, Chatzigakis, declarou no parlamento que o governo inglês não só perdoou o polícia que matou o brasileiro durante o ataque contra o metro alguns anos atrás, como o reabilitou ao serviço. Por conseguinte o governo grego deveria… etc.
Na conhecida área de Sparta de influência da extrema-direita, no Peloponeso, há um movimento para angariar dinheiro para o polícia assassino.
Um grupo de “intelectuais” assinou uma declaração afirmando que os jovens gregos não estão a fazer o que é correcto (lembrar o que escreve Noam Chomsky sobre os intelectuais).
A pior reacção acerca da sublevação dos adolescentes gregos foi a da secretária do Comité Central do KKE (Partido Comunista), Alea Papariga, que insistiu que o que se passava não era uma “sublevação”, independentemente do que se manifestassem os jovens gregos. Disse que a revolução só acontece quando os trabalhadores se revoltam sob a orientação da vanguarda comunista. Também insinuou que a Coligação da Esquerda Radical estava a desculpar os incendiários.
Os neonazis formam o grupo mais perigoso porque aproveitam para se misturar com os manifestantes e levam a cabo o seu trabalho horrendo. A sua organização dá pelo nome de Madrugada Dourada. Parece haver na polícia um número significativo de neonazis da Madrugada Dourada o que explica a protecção que esta tem efectuado à actuação da extrema-direita. Um dos momentos mais significativos dos últimos dias foi um vídeo que mostrava um grupo de polícias ou neonazis a sair de entre um grupo de polícias fardados, armados com bastões e que começaram a partir as montras das lojas. No entanto, o que é mais significativo é que os neonazis, movendo-se entre aqueles 1/3 de eleitorado tradicionalmente conservador, conseguiram entrar no parlamento grego como um partido político aceitável com uma percentagem de 3 a 4%. A maioria das vezes tentam apresentar um discurso populista no parlamento usando a linguagem e os argumentos do… partido comunista. No entanto, ainda ontem (22? 23? de Dezembro), o seu líder, Karatzaferis, pediu que o parlamento aprovasse uma “resolução especial” (em grego “idionymo”). A história desta resolução é uma das páginas mais negras da vida política da Grécia. Esta é uma lei “construída” em 1929, pelo famoso “pai” da nação grega, o “grande democrata” Eleftherios Venizelo, cujas numerosas estátuas de mármore e de bronze estão dispersas por toda a Grécia. Esta resolução foi desenhada para começar uma brutal perseguição aos comunistas e anarquistas gregos que pretendiam “derrubar a ordem estabelecida”. Foi o início de um progrom dirigido especialmente aos comunistas gregos que incluia prisão, tortura, e mais tarde já depois de Venizelos, execuções aos milhares que duraram até 1974. Quando Venizelos foi informado que os fascistas gregos tentavam derrubar o governo ele recusou-se a incluí-los no “idionymo”. Claro que esta gritaria de Karatzaferis, o representante dos neonazis no parlamento, é simples espalhafato porque ele melhor que ninguém sabe que se removermos os capuzes dos manifestantes muitas daquelas caras pertencerão à polícia e à Madrugada Dourada.
Há algumas pessoas que dominam as notícias na sociedade grega numa base quase diária:
Anthimos, um sacerdote em Salónica do topo da hierarquia religiosa a quem chamam “santo” que há anos faz um discurso de extrema-direita e militarista perigosíssimo. Por exemplo, ele ameaça os macedónios de uma invasão do exército grego. Também em Salónica, o direitista Theodore Pangalos, neto de um general que foi ditador na Grécia em 1925, que se juntou à esquerda “socialista” e chegou a Ministro dos Negócios Estrangeiros. O ponto alto da sua carreira foi ter entregue Ocalan, o líder dos curdos, ao governo turco, que por sinal está a apodrecer nos calabouços turcos desde então. Há poucos dias atrás atacou a Coligação da Esquerda Radical como sendo “vadios políticos” que apoiaram os revoltosos encapuçados que indendiaram, etc.
Há ainda mais um factor de peso na sublevação grega: os imigrantes. No início mantiveram-se alheados do motim embora tivessem feito a maioria das pilhagens. No entanto, em alguns casos participaram na revolta, coisa natural para quem quer que tenha sido levado a uma esquadra de polícia e tenha saído de lá a odiar tudo o que seja grego. Sodomizar com bastões é o procedimento habitual dos bravos polícias gregos. A descrição mais trágica foi feita por um jovem albanês que há alguns anos, depois de se ter recusado a responder ao insistente interrogatório dos jornalistas gregos, lá acabou por dizer que lhe fizeram “o que se faz às mulheres”. O albanês foi morto já na Albânia pela polícia depois de ter sequestrado um autocarro grego. O caso mais recente de tortura foi capturado em vídeo e mostrava os polícias a obrigarem um imigrante albanês a torturar outro imigrante albanês para recreação dos polícias gregos, membros de uma raça superior.
Razões para o “bófias porcos assassinos” que se ouve vindo da Grécia
Em Novembro de 1980, a polícia antimotim atacou os manifestantes que marchavam para a embaixada dos EUA comemorando a sublevação dos estudantes contra a ditadura em 1973. A polícia de Karamanlis (tio do actual Karamanlis que governa a Grécia), matou Iakovos Koumis e Stamatina Kanellopoulou esmagando os seus crânios.
Em 1981, os “socialistas” do PASOK ganham as eleições e Andreas Papandreou, educado nos EUA e professorde economia em Berkley, torna-se primeiro-ministro. O seu primeiro acto: duplica os salários dos polícias! Quatro anos depois, em 1985, a polícia de Papandreou assassina o jovem Michael Kaltezas de 15 anos com um tiro na parte de trás da cabeça, novamente na comemoração da sublevação dos estudantes. O polícia foi absolvido. Nesse mesmo ano Catharine John Bool, uma norte-americana de 22 anos, é morta pela polícia por recusar a revista do seu carro. Nesse período um jovem turco foi espancado até à morte numa esquadra de Atenas. A imprensa grega nunca inclui o seu nome na lista de pessoas mortas pela polícia. Esta lista consiste nos nomes de cerca de cem pessoas mortas pela polícia “socialista” ou de direita, desde 1974 até hoje. Nunca um polícia foi condenado
Assim, o povo grego adoptou o grito de batalha: “bófias, porcos assassinos!”
Blog de Nikos Raptis
publicado por mescalero