A boa pilhagem ao largo da Somália

Andam a mentir-nos sobre a pirataria na Somália. Ou pelo menos a omitir parte da verdade. Parece que nem todos os piratas são os perigosos bandidos armados até aos dentes cuja actividade de pilhagem em alto mar obriga à vigilância atenta da armada invencível,

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Navios da frota multinacional Combined Task Force 150, ilegalmente nas águas somalis

aliás, parece que nem todos os piratas são sequer bandidos. O site noticioso independente somali WardheerNews reporta que, ao contrário do simplismo com que o caso tem sido apresentado, há duas piratarias na Somália. Além da banditagem, há outro tipo de ataques piratas que combate a invasão de barcos de pesca estrangeiros que ilegalmente dizimam as reservas de peixe, depois de terem depauperado os mares dos seus próprios países. Outro alvo do ataque destes piratas são os navios que vão despejar lixo tóxico, incluindo nuclear, nas praias da Somália. Segundo o Independent pode-se encontrar todo o tipo de materiais perigosos como chumbo, cádmio, mercúrio, materiais nucleares, lixo que tem origem nos hospitais e fábricas europeias e que é vendido à máfia italiana para se livrar dele a baixo preço.

Eles auto-denominam-se a Guarda Costeira Voluntária da Somália e têm o apoio de muitos dos locais ao longo da costa do Corno de África. Estão não só a roubar-lhes o peixe como a impedi-los de pescar, destruindo-lhes os barcos e estragando-lhes as redes, no que é designado pelos pescadores de verdadeiro “terrorismo económico”. Elucidativo.

Estes piratas, para as comunidades piscatórias somalis, não são bandidos, são heróis.

Sugule Ali, pirata somali: “Não nos consideramos bandidos do mar. Consideramos bandidos aqueles que pescam e despejam lixo ilegalmente nos nossos mares.”

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Ould-Abdalla, enviado especial das Nações Unidas para a Somália, é acusado no site informativo WardheerNews de se pronunciar contra a pirataria de banditagem e se esquecer da pesca ilegal e do despejo de lixo tóxico. Entretanto, o mesmo enviado especial perdeu a amnésia e falou do caso, mas a questão é que isto não é novo para as NUs. Já em 95 havia denúncias conjuntas dos representantes nacionais somalis e de ONGs que foram ignorados, houve também vários relatórios das próprias NUs.

«É simplesmente errado ilustrar os piratas como salteadores de estrada que se fizeram ao mar ou até proto-capitalistas, como fizeram certos historiadores. Em certo sentido, eles eram “bandidos sociais”, embora as suas comunidades-base não fossem sociedades agrárias tradicionais mas “utopias” criadas quase ex nihilo em terra incognita, enclaves de liberdade total ocupando lugares em branco no mapa.» Hakim Bey, Utopias Piratas, Zona Autónoma Provisória

mescalero

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Comentários

  • Zorze  On Sábado, 10 Janeiro 2009 at 11:04 pm

    Um dos crimes que ocorrem no nosso planeta, ao qual, os milhões de olhos não vêm e outros tantos neurónios não raciocinam.
    A Somália, país completamente desestruturado, sem autoridade capaz, é criminosamente aproveitada por armadores sem escrúpulos para sugarem o peixe dos seus mares. São alvo de despejos de lixos ultra-tóxicos, como muito bem dizes, por máfias que se encarregam do trabalho sujo mas pagos por senhores credíveis e financiadores de muitas campanhas eleitorais na europa.

    Que grande serviço prestam estes piratas à nação Somali. E segundo últimas notícias já libertaram o Syrius, mega-petroleiro saudita mediante avultado pagamento.

    Abraço,
    Zorze

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